SAI DA TUA TERRA!

Essa coisa de identidade costuma dar pano pra manga. Tem aqueles que são autênticos por natureza, que carregam um ponto de vista muito particular e têm o traço da irreverência fazendo suas atitudes ganharem todas as atenções. Porém, esses são uma minoria quase escassa. O que impera mesmo são os "normais", ou seja, quem simplesmente usa as ferramentas disponíveis para dar vida aos seus planos.
 
Um excelente resultado final não necessariamente significa ter marca própria. O percurso até que se atinja algo assim varia de um para outro, mas é possível ser atingido. A evolução do que se trabalha é o caminho que se segue. Entretanto, essa evolução depende de um detalhe fundamental: o uso das referências em busca de informações que validem suas tentativas na direção de reproduzir o que brota em sua cabeça.
 
Infelizmente, o que noto por aí são pessoas insistindo numa tecla semelhante e, ao mesmo tempo, desanimadora. O uso das referências está ok, contudo o objetivo é que põe tudo a perder. Os esforços não têm a meta de se exteriorizar ideias particulares e novas. Querem, na verdade, soar igual a fulano, ciclano ou beltrano. Enfim, mais do mesmo, cópia, perda de tempo... Dá a impressão de mediocridade.
 
E aí, o cara entra numa fase de vício exacerbado. Rodeia-se só daqueles um ou dois ídolos e constrói um ambiente musical completamente equivocado, limitado. Há casos em que o preconceito acaba vindo naturalmente, e aí fode de vez. Por fim, temos uma criatura radical e chatíssima. Todavia, nenhuma arte não funciona com esse tipo de mecanismo.
 
Copiar, tudo mundo copia – inclusive os ditos geniais. É impossível cruzar uma esquina pela qual já não tenham passado, ainda mais hoje em dia. O ser original não é uma atitude que exija somente o antes inexistente. Não é reinventar a roda, mas sim dar a ela novos propósitos; é incrementá-la com elementos que não anulem sua função fundamental. E, em meio a isso, surgem as sacadas que dão uma força extra à sua constante rotação.
 
O músico precisa se propor a perder o cordão umbilical que o prende às influências. Deixar de lado as amarras que o imaginário romântico lhe impõe em relação aos ídolos para encontrar seu próprio caminho. Se o negócio não é a composição, invista mais na sensibilidade, aquela que completa um intérprete. Fuja da mera reprodução. Não seja artista genérico, a Cola que não é a Coca, a cerveja sem álcool, o sapatênis, um produto barato e que se vende em camelô, junto com CDs e DVDs piratas (que, na essência, são cópias).
 
É um saco ver quem fica querendo emprestar a história dos outros como se, assim, pudesse encurtar o caminho rumo à fama ou sucesso. O triste é que a grande maioria é assim em 2012. Morra anônimo, mas seja autêntico, pô! De que adianta ser uma merda e conseguir, no máximo, o agito de uma barulhenta descarga rumo ao fosso onde estão outros dejetos? É dessa maneira que enxerga uma carreira?
 
Psiu! Ei, você aí, que quer ser músico, viver dessa maravilhosa arte, faça-nos um grande favor, ok? Entenda o mercado em que está inserido, absorva o máximo de informações e copie apenas uma coisa: a vontade de se criar algo arejado, renovado. Explore outras praias, torne seu vocabulário um obeso mórbido de possibilidades. Vá atrás de referências distantes daqueles que preenchem a prateleira de discos de sua estante. Uma hora será inevitável cair na trilha que não é de ninguém, a não ser sua. Seja corajoso!

Enfim, sai da tua terra!
 
 
Henrique Inglez de Souza

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