ADÉLIA PRADO


Foto: Acervo de Família
 
Fiz essa entrevista no início de outubro. Buscava uma referência consistente e inspiradora para rechear um editorial que iria preparar. O texto saiu na edição de novembro da revista Bass Player. Não couberam todos os depoimentos, então, resolvi postar aqui, na íntegra, a honrosa conversa por e-mail que tive com Adélia Prado – uma iluminada e valiosa poetisa de nosso patrimônio literário.
 
Adélia, a senhora tem uma ligação forte com a música? Qual é sua relação e da sua obra com a música?
 
Minha relação com a música é primária. Acontece que o poema, dada a sua estrutura íntima, que é o ritmo, torna o mais analfabeto musical dos poetas tributário da música.
 
A sua poesia é do tipo que pega o leitor pela mão e o conduz fundo em seu (Adélia Prado) universo visceral. Em que momentos acha que a alma fica mais “vulnerável” a se expor dessa maneira e como costumam se originar seus textos, a partir daí?
 
Teria que "entender" de música para responder. Contudo, diria que a arte mais próxima da poesia é a pintura. Por qual razão, também não sei. Tanto a música quanto a pintura oferecem carnalidade auditiva e visual, tal qual o poema na sua escrita e oralidade.
 
Quanto à vulnerabilidade, estamos protegidos todos os artistas. A arte, ao mesmo tempo que revela, também vela. Sua proteção é exatamente o que chamamos FORMA. Não se trata de um reality show – muitas vezes, mais "show" que "reality". Trata-se de mostrar o real pela via da beleza. A outra forma é a mística. Quero citar Novallis: quanto mais poético, mais real.
 
Num mundo afogado em pressa, instantaneidade, estresse, semostrismo e consumo descartável, o que é viver com poesia nos tempos atuais?
 
Viver com poesia hoje é ter o tesouro, a bênção, de um oásis no deserto.
 
A meu ver, as artes têm em comum justamente a poesia. Talvez por conta do contexto por mim acima citado, muitos instrumentistas valorizam técnicas e o exibicionismo, deixando de lado a musicalidade. Qual é o tipo de música que te toca e por quê?
 
Exatamente as que obedecem à única lei que rege a arte: seu estatuto interno, que odeia didatismos, ideologias, bandeiras, engajamentos e, em primeiro lugar, o ego do autor.
 
Senti que em seu mais recente livro, Miserere, a senhora despiu-se com mais angústia, mais amor, foi mais lúgubre... enfim, usou tons mais fortes para colorir os seus sentimentos. Como me ilustraria a fase que atravessa neste momento de sua criação?
 
Uma maior consciência da finitude humana e de sua fragilidade. Somos criaturas.
 
Adélia, muito obrigado pela sua atenção e por ter dedicado alguns minutos de seu tempo para responder às minhas perguntas! Um forte e respeitoso abraço!
 
Henrique, um abraço grande pra você e obrigada! Adélia Prado

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