Sepultura: 'Endurance'

Ontem (20/09) assisti ao documentário do Sepultura, Endurance. Estava curioso para ver o enfoque e eventuais passagens curiosas. É bem-feito, tem até uma quantidade legal de arquivo. A estrutura da narrativa também me agradou. O período com o Jean Dolabella, a turnê pelos Estados Unidos e o papo reto sobre ele querer sair. Ficou excelente a maneira como apareceu, assim como a atual fase, com o Eloy Casagrande.

Agora verdade seja dita: é berrante a falta que faz a presença dos Cavalera. Ao final do filme vem o recado de que eles não quiseram participar. É lamentável, pois só o material de arquivo não dá conta dessa fatia da história. Os 12 primeiros anos foram fundamentais, inclusive para que se tivesse uma produção como Endurance. A falta de Max e Iggor deixa de fora uma considerável parcela dessa importância, o que, a meu ver, é uma pisada de bola.

Mas também seria esquisito: os caras estão cada parte em seu lado, às vezes trocam umas farpas indiretamente por entrevistas (menos, hoje em dia). Existe uma ou algumas questões entre lá e cá. Seria estranho, portanto, toparem participar do documentário – ainda que de repente, se isso acontecesse, pudesse sinalizar uma reaproximação e tal.

Pensando nisso, acho que teria valido bem mais a pena o Sepultura ter partido do rompimento de Max, em 1996. Ou seja, ter tratado da era Derrick: as desconfianças, a superação, os discos, as trocas de integrantes, o fantasma Cavalera. Teria sido um material bem mais rico, pertinente e sem as evidentes lacunas que vemos no material. Tratar de 1996 pra cá valorizaria ainda mais justamente a encarnação atual – encabeçada por Andreas Kisser, Paulo Xisto e Derrick Green. Perderam essa chance.

De modo geral, gostei dos depoimentos dos convidados, mas algumas coisas me incomodaram. Primeiro, ficou meio repetitivo, batendo na mesma tecla, o tipo de assunto abordado. Por mais que o Sepultura seja o ícone que é e que tenha desbravado o mundo, cravando uma marca peculiar na música pesada, daria para ter explorado aspectos além desse. Chega determinado ponto em que fica meio babação de ego.

Porra, não tinha mais passagens curiosas em turnês ou comentários sobre versões da banda (por exemplo, Orgasmatron, do Motörhead)? Poderiam ter abordado a participação do Andreas na emblemática turnê Big 4 (Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax, com quem o brasileiro tocou).

Outra coisa que achei descartável e uma forçada de barra foi a presença do Serginho Groisman. Jura que não tinha ninguém melhor? Por mais que ele tenha ajudado, como acredito que ajudou, não dá para achar interessante tê-lo falando o óbvio (reforçando o quesito babação). Como é que não há depoimentos do Gastão Moreira (ex-MTV) ou de alguém das antigas da revista Rock Brigade? Estas são duas partes importantíssimas na biografia da banda.

Eu sei que no Brasil só se valoriza dignamente os artistas conterrâneos quando estes ganham respeito no exterior. Mas pera lá, né? Teve gente da mídia daqui que fez, sim, um trabalho decente de valorização...

Foram dedicados seis anos para a produção de Endurance. Será que não deu para conversar com o Gastão ou alguém da Brigade nesse tempo todo? Não ter esses caras, mas sim o Groisman, deu um ar de Encontro com Fátima Bernardes. E aí está outra razão para eu achar que o filme teria sido muito melhor se tivesse permanecido somente na era Derrick.

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