JORNALISTA-FÃ É UM SACO!

Uma das grandes ilusões de quem trabalha com jornalismo musical e conversa com figuras conhecidas é achar que ficou "chegado", amigo camarada, de quem entrevistou. Há casos em que isso realmente acontece, mas, na maioria deles, costuma-se confundir um bom relacionamento profissional com amizade.

Artista, mídia, público e gravadoras/empresários formam um bolo só. Todos dependem uns dos outros para que a coisa funcione. É o nicho em que sobrevivem/atuam. Portanto, nada mais natural e desejável que haja uma interação amistosa entre as partes.

Só que há jornalista (ou coisa que o valha) pedante, que confunde e fantasia. Jura de pés juntos que ficou amigo de fulano da banda tal ou sei lá quem quer que seja. Às vezes, refere-se à pessoa até com certa intimidade. Há até quem se sinta "proprietário" de tudo relacionado a um assunto só porque fez um trabalho a respeito (já conheci quem passou a agir achando ser uma espécie de intermediação sem, no entanto, ter qualquer vínculo profissional). Cheio de poses e do ar de uma condição imaginária, saca? Tolice!

Mas sabe o que é pior? É que tudo isso não passa de um jeitinho pra ficar tietando. Só pra ter o gostinho babaca de dizer "olha com quem estive" ou "esse é meu amigo, ele é superlegal", como se fosse uma qualidade realmente importante. Algo que lhe qualifique com um status triunfante ante aos pobres mortais que estão longe disso. Ou seja, é pura perpetuação de impulsos infantis malresolvidos. Não há coisa mais chata que pseudoprofissional que batalha um pedacinho a mais do ídolo, uma foto, um contato mais privilegiado com o astro ao invés de se preocupar em fazer um trabalho de qualidade. E, na real, esse tipo de postura prejudica quem é sério e está tentando uma entrevista consistente com determinado artista.

A pessoa que busca o jornalismo para isso deveria passar a carreira cuidando de fanzine, fã-clube ou fã-site ao invés de vir posar de dono(a) do pedaço. Os pontos altos de uma carreira jornalística devem ser celebrados, claro! Mas para tudo há uma medida. O problema não é o que você tem e sim como usa. Portanto, se você tem vitórias a serem mostradas, experiências que lhe fizeram a diferença, tem mesmo que partilhar com outras pessoas. Agora, se você faz isso por pura semostração pré-adolescentoide, esqueça!

Amizade, seja com alguém conhecido ou um anônimo, é aquela coisa consistente, de sair pra tomar cerveja e falar besteira, de curtir. Entrevistar artistas famosos é estabelecer um link saudável, positivo, o que nem sempre significa ser uma amizade. Afinal, um lado depende do outro, lembra? Trata-se apenas de um bom relacionamento profissional. Nada, além disso. Então, só dou uma dica a esses maus profissionais: Se liguem, puxa-sacos! E deixem quem é sério trabalhar em paz!

Henrique Inglez de Souza