MANIA
"Ah, vai! Só o nome do cara... Ou então, dê uma pista,
diga um disco ou uma música. Não precisa ser tão conhecida", e assim foi pelos
minutos seguintes, enquanto eu tentava me esquivar de todo jeito. Você sabe,
né? É sempre meio chato ficar dizendo "não, não, não" o tempo inteiro aos
amigos. Mas para mim é impossível adiantar coisas que estão em andamento ou por
acontecer.
Caí na asneira de falar que estava trabalhando a
entrevista que fiz com uma dessas instituições do rock, uma lenda das antigas mesmo. Aí,
claro, o interesse brotou feito feijão no algodão umedecido e logo veio a
enxurrada de perguntas. Me arrependi profundamente de ter deixado escapar a
propaganda empolgada. "Pô, sacanagem! Agora, vou ficar com isso na cabeça",
ouvi.
Não é por maldade. Talvez seja uma mania que tenho.
Neurose, quem sabe? Mas nem sob tortura conto ou dou esse tipo de detalhe. No
máximo, libero a versão simplificada uma-linha-apenas. Já tive
experiência suficiente para me certificar do quão catastrófico pode ser o desfecho
de uma grande ideia, se a antecipamos. Funciona quase como aquela história do cantar
vitória antes do tempo.
Necessariamente,
na maioria dos casos, a coisa vai direto para o brejo. Acho que só em uma ou
outra vez isso não aconteceu. No geral, dá errado. Quando falei sobre um livro que havia começado a
preparar, meses depois, a editora desistiu e o projeto ficou engavetado; quando
planejava uma viagem daquelas atípicas, sensacionais e incrivelmente baratas,
acabou que os tais imprevistos surgiram pelo caminho; quando comentei sobre uma
beldade angelical que estava xavecando e indo bem, não é que semanas mais
tarde o "romance" declinou vertiginosamente?
Também já perdi matérias por causa dessa lei que rege
a ansiedade desbocada – entrevista desmarcada, problema no gravador, telefone que resolveu ficar mudo... Enfim! "Se você já fez a entrevista com o cara, então o
que poderia dar errado? Por que não pode me contar nada, caramba!?" – reclamou meu
conhecido. Até faz sentido sua colocação, é convincente. Mas aí vem outra
mania que tenho, a de gostar de cozinhar a curiosidade das pessoas. Me diverte enquanto tento despistar a insistência em me arrancar informações (ainda) não realizadas.
Henrique Inglez de Souza
Todo mundo já sabe que é uma entrevista com os Mendigos da Oscar Freire. Não precisa ficar escondendo.
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