ROCK ESTAR
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Borrão: Henrique Inglez de Souza |
Vira e mexe, recebo uns e-mails esquisitos. Quer dizer, "esquisitos" talvez não seja a palavra, mas são, ao menos, curiosos (hilários?). A maioria deles está relacionada ao fato de ter entrevistado o Slash algumas vezes. São fãs enlouquecidos na esperança de que eu possa ser o portal entre eles e seu ídolo mor. Coisas assim...
Certa vez, uma mulher queria porque
queria que lhe passasse o MSN do ex-Guns N' Roses (!!!) – como se eu tivesse. Trocamos
umas mensagens pela internet e, numa delas, quase fui intimado a arrumar um contato.
Já houve quem me implorasse por uma cópia escaneada do autógrafo que tenho. E uma
repórter tiete, que passou semanas insistindo pelo telefone do cara, e não era para
uma matéria, não. Era só "pra ouvir aquela voz sexy dele". Enfim!
Depois, houve uma fase em que a
curiosidade era relacionada ao que o Slash havia me dito nas conversas, se
havia acontecido algo curioso e tal. Essas pedidos mais dentro da normalidade. Sem problema! Porém,
quando achei ter conseguido uma trégua no plano virtual, eis que me deparo com algo
parecido no plano real!
Estava com um pessoal da imprensa em um
show qualquer, fazendo hora antes de a performance começar. Um cara aponta para
mim e diz: "Ele já fez umas mil entrevistas com o Slash". Outro se vira
espantado e "sério???", com os olhos arregalados. Esclareci: "Bom, umas mil entrevistas não, mas três,
com certeza". Logo, notei que estava diante da pior espécie de jornalista: o
jornalista-fã – e olha que ele trabalhava para um grande portal de notícias!
O tal me manda: "Caraca! Uma vez, tentei
entrevistá-lo no saguão do hotel em que estava e ele foi arrogante, cuzão.
Reclamou porque eu queria tirar umas fotos dele comigo e minhas amigas". Buscando
uma saída de emergência daquela conversa fiada, tratei de minimizar: "Sei lá,
não o achei cuzão. Sempre me tratou bem e com profissionalismo – mesmo nas
conversas por telefone".
"Nossa! E ele tem seu telefone?! Que
show!" (tive de ouvir mais essa!) Na verdade, é claro que o Slash não tem meu
numero. São apenas compromissos agendados com assessorias e tal. Expliquei isso,
mas não adiantou muito. "E como foi?? Conta aí!", insistiu. "Ah, foi assim:
o telefone de casa tocou e, quando atendi, ouvi: 'Oi, Henrique! Aqui é o
Slash...'. Então, fiz a primeira pergunta", contei, querendo encerrar o assunto.
O cara concluiu que tive "muita sorte"
pelo Slash não ter sido mal-educado comigo. Já de saco estourado, discordei
dizendo que é tudo uma questão de postura: o jornalista trata a pauta com
seriedade e o entrevistado retribui da mesma maneira. É claro que há músicos
otários, estrelinhas e antipáticos, mas a grande maioria responde bem.
Por exemplo, continuei, na última
entrevista com Slash, a ideia era fazer um faixa a faixa da edição deluxe do disco 'Apocalyptic Love' (2012) – ou seja, comentários sobre cada canção. A
coisa ia fluindo bem até chegarmos à parte final do repertório. A ligação simplesmente
caiu! Achei que seria o fim e que teria de dar um jeito com o que havia
conseguido até ali. Porém, para a minha surpresa, uns 15 minutos depois, recebi
um e-mail da assessora norte-americana. Ela me pedia desculpas e incluía como
anexos os comentários para as músicas restantes, gravados e enviados por conta
própria pelo Slash.
Agradeci a ela e disse que ainda faltavam
os dois bônus. Mais alguns minutos e lá estavam os depoimentos finais na minha
caixa de mensagens. Quer dizer, o guitarrista poderia ter virado as costas e "dane-se
a entrevista!" Mas não. Foi sério e "humano" o suficiente para concluir o compromisso.
Antes que o jornalista paga-lanche pudesse dizer qualquer bobagem a mais, o show pelo
qual estávamos ali começou.
Não tem jeito! Enquanto houver essa molecagem
de misturar tietagem com trabalho, o resultado estará seriamente ameaçado. Nada
contra ser fã – eu sou –, mas é fundamental manter certa distância, saber a
hora certa para tudo e estar ciente do seu ofício. Respeito não se compra em caixa de padaria, junto com bala
e chiclete.
Henrique Inglez de Souza
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