EU AMO MEU BAIXO
Outro dia, estava lembrando de quando
decidi que iria aprender a tocar baixo. Era uma ideia fixa e meio sem razão. Testei
a paciência do meu pai até ele me comprar um instrumento. Hoje, porém, entendo
aquele desejo incontrolável. Eu queria a todo custo sentir na pele a magia que
meus ídolos transmitiam em suas canções. De alguma forma, tinha que fazer parte
daquilo!
Assim, há 20 anos, dava novo lar a um quatro-cordas
usado que estava esquecido numa loja de São Paulo. Era de uma marca modesta,
mas foi paixão à primeira vista. Mal sabia sequer usar uma corda solta, mas, mesmo
assim, ele foi generoso em produzir um som incrível no momento em que o testei.
Me deu a certeza de que havia escolhido o caminho certo: a música.
Virou um grande companheiro. Acompanhou
meu aprendizado (sempre com paciência), me incentivou quando ficava desanimado,
estava lá comigo nas bandas que tive, encaramos perigos e perrengues, dividimos
grandes alegrias e realizações. Tudo com uma parceria fiel, segura e o seu
timbre reconfortante.
Mesmo depois de comprar outros baixos, o
número 1 não perdeu o posto. Era e é especial. Após longos e ininterruptos 16
anos, porém, passei a não usá-lo mais em apresentações – estava surrado e
pedindo arrego. Mas nunca faltou aos ensaios. Até que, certa vez, por conta de
um descuido, furtaram meu baixo num estúdio. Na verdade, o sumiço durou apenas alguns
minutos e mobilizou o pessoal do local. Encontramos meio separado para ser
levado embora. Sorte pura!
A tensão e a angústia geradas pelo susto
de quase ter perdido meu grande e velho parceiro foram amargas. Me dei conta de
que havia chegado a hora de preservá-lo, aposentá-lo. Já faz uns quatro anos
que sigo sem meu principal baixo. Ele está muito bem guardado e protegido. De
vez em quando, faço uma visita. Retiro-o de seu case, dou uma bela limpada e passamos
algumas horas juntos. Plugo num amp e relembramos os bons tempos de nossa
história.
Apesar de já um tanto cansado, ele
responde com classe, vigor e aquele timbre mágico do qual jamais me privou. Não
se importa com a nossa distância. Sabe que eu não o deixaria de lado por
qualquer motivo e entende ser melhor permanecer recluso. Um sempre poderá
contar com o outro – algo de valor inestimável. É por isso que eu amo meu
baixo!
Henrique Inglez de Souza
Porra Chuck! É exatamente esse meu sentimento com o meu baixo!
ResponderExcluirFala, Luis! Po, meu... legal! Foi um texto bem à flor-da-pele. Abração!
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