ADÉLIA PRADO
Foto: Acervo de Família
Adélia,
a senhora tem uma ligação forte com a música? Qual é sua relação e da sua obra
com a música?
Minha relação com a música é primária.
Acontece que o poema, dada a sua estrutura íntima, que é o ritmo, torna o mais
analfabeto musical dos poetas tributário da música.
A
sua poesia é do tipo que pega o leitor pela mão e o conduz fundo em seu (Adélia
Prado) universo visceral. Em que momentos acha que a alma fica mais
“vulnerável” a se expor dessa maneira e como costumam se originar seus textos,
a partir daí?
Teria que "entender" de música para
responder. Contudo, diria que a arte mais próxima da poesia é a pintura. Por
qual razão, também não sei. Tanto a música quanto a pintura oferecem
carnalidade auditiva e visual, tal qual o poema na sua escrita e oralidade.
Quanto à vulnerabilidade, estamos
protegidos todos os artistas. A arte, ao mesmo tempo que revela, também vela.
Sua proteção é exatamente o que chamamos FORMA. Não se trata de um reality show
– muitas vezes, mais "show" que "reality". Trata-se de mostrar o real pela via da
beleza. A outra forma é a mística. Quero citar Novallis: quanto mais poético,
mais real.
Num
mundo afogado em pressa, instantaneidade, estresse, semostrismo e consumo
descartável, o que é viver com poesia nos tempos atuais?
Viver com poesia hoje é ter o tesouro, a
bênção, de um oásis no deserto.
A
meu ver, as artes têm em comum justamente a poesia. Talvez por conta do
contexto por mim acima citado, muitos instrumentistas valorizam técnicas e o
exibicionismo, deixando de lado a musicalidade. Qual é o tipo de música que te
toca e por quê?
Exatamente as que obedecem à única lei
que rege a arte: seu estatuto interno, que odeia didatismos, ideologias,
bandeiras, engajamentos e, em primeiro lugar, o ego do autor.
Senti
que em seu mais recente livro, Miserere,
a senhora despiu-se com mais angústia, mais amor, foi mais lúgubre... enfim,
usou tons mais fortes para colorir os seus sentimentos. Como me ilustraria a
fase que atravessa neste momento de sua criação?
Uma maior consciência da finitude humana
e de sua fragilidade. Somos criaturas.
Adélia,
muito obrigado pela sua atenção e por ter dedicado alguns minutos de seu tempo
para responder às minhas perguntas! Um forte e
respeitoso abraço!
Henrique, um abraço grande pra você e
obrigada! Adélia Prado
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