Ale Vanzella: bossa alternativa (e nova) pronta para o mundo
Foto: Juliana Pozzatti |
Entre 2016 e 2017, o gaúcho Ale Vanzella registrou suas mais recentes conquistas. Lançou o ao vivo Unplugged in SP e faturou, pela terceira vez, o prêmio Palco MP3. Embora siga à parte da grande mídia, como tantos outros nomes nacionais bons (consagrados ou não), os shows e a repercussão de suas tacadas garantem o rumo acertado.
O violonista e cantor despontou pelo cenário
há cerca de cinco anos. Desde então, vem trilhando com sua mistura de bossa
nova e indie rock, feita com criatividade – vale ressaltar. A chamada indie
bossa já rendeu dois trabalhos de estúdio, Indie Bossa (2012) e Indie
Bossa II (2015), além do ao vivo acima citado. No mais recente de
inéditas, inteiramente gravado em inglês, o músico mostrou para que direção sua
mira aponta: o mercado estrangeiro.
Aos olhos do mainstream, Ale Vanzella é
um sucesso discreto. Porém, a quem enxerga o dia a dia da cultura musical no
Brasil, é uma louvável caminhada!
Hoje
você tem um tempo razoável para enxergar com distância a discografia que
iniciou. Já consegue ver com certa clareza um estilo próprio? Qual seria?
Pois é, engraçado olhar para trás e
pensar que a ideia de Indie Bossa já tem pouco mais de
cinco anos de lançamento e que desde lá já são três discos gravados.
Entendo meu estilo como uma alternativa
à bossa nova. Não me vejo como um bossa-novista clássico, talvez por ter muitas
outras influências, talvez por não ter vivido na mesma época de ouro dos
mestres, ou talvez por simplesmente não tentar (ou não conseguir) ser igual.
Mas, em síntese, é isso: faço uma bossa diferente da inicialmente proposta, uma
bossa alternativa.
Indie Bossa II, seu mais recente álbum de inéditas, me parece um
tanto mais convicto em relação ao endereçamento sonoro: você quer ganhar o
exterior, certo?
Sempre tive facilidade de compor em
inglês. No primeiro disco, fiz um esforço grande como compositor para escrever
e como músico para ouvir e me aceitar em português. Acredito que foi uma boa
escolha para a junção de estilos no álbum de estreia.
Em Indie Bossa II, deixei de lado um
pouco isso e me concentrei na forma que queria fazer o disco soar, com menos
batidas tropicais e com arranjos mais soturnos que o anterior, baseado no
violão e que demonstrasse melhor o que faço ao vivo. Assim, senti que soava
melhor gravar o álbum inteiro em inglês. Tens razão, tanto o endereçamento
sonoro como o idioma remetem a registros gringos, pois muitas de minhas
referências são estrangeiras. Acho um bom caminho para trilhar.
Quais
faixas destacaria como estandartes do passo seguinte de sua caminhada?
Considero I Am Afraid of You [confira o
clipe logo abaixo] uma música importante dentro de minha discografia. Com
certeza, não a mais popular, mas importante. Define a diferença entre o
primeiro e o segundo álbum de estúdio pela sonoridade, estrutura e maneira como
foi composta. Sem dúvida, não conseguiria escrevê-la e gravá-la em 2012, quando
lancei meu álbum de estreia.
Apesar
de ser o berço da bossa nova, o Brasil é cruel com os artistas que se embrenham
por esse estilo?
Acho o Brasil um país cruel com qualquer
músico que não faça parte dos estilos do momento, porém, tanto eu quanto
qualquer artista que trilhe um caminho não fundamentado em hits da estação,
sabe disso antes de começar. Entendo a colocação. Todo mundo adora citar bossa
nova como exemplo de cultura brasileira, mas na prática vemos poucos shows do
gênero, e diversos dos artistas citados como referências passam anos sem
conseguir se apresentar por aqui. Sad but true...
Unplugged in SP saiu um ano após Indie Bossa II. Por que da, digamos, pressa entre os lançamentos?
Não quis um intervalo grande entre os
discos, pois acho o ao vivo e o segundo álbum de estúdio muito interligados. Fazem
parte da mesma verdade, tanto em questão de repertório quanto de sonoridade.
Acredito que Unplugged complemente Indie Bossa II na questão visual. Optei
por não realizar tantos videoclipes do Indie Bossa II e utilizar mais o
tema ao vivo para vídeos – por isso também o vínculo.
Em
novembro passado, você recebeu – pela terceira vez – o Prêmio Palco MP3. Se
espelhar os prêmios que faturou na expressão que sua carreira conquistou até
aqui, qual é a análise?
Cada prêmio marcou um estágio da
carreira e tem sua importância inquestionável na trajetória. Quando lancei Indie
Bossa, em 2012, não fazia ideia da aceitação que teria ou da
repercussão que geraria. Estava no disco de estreia, e qualquer coisa a mais do
que deixá-lo em minha estante já seria ótimo. Com ele vieram prêmios de crítica,
como o Açorianos e o Troféu RBS TV Cultura. Foram um impulso significante na
época e repercutem até hoje.
Depois, entre 2015 e 2017, recebi as
premiações do Palco MP3, prêmios de público por ser o artista mais acessado do
gênero. Sinto, assim, que as músicas estão tendo aceitação além da crítica, do
público de bossa nova. Isso é muito gratificante.
E
aí, já cansou de prêmio ou quer mais?
Coisas boas não cansam. Prêmios são
consequências, definidos por momentos, lugar certo, hora certa, sorte, não sei
explicar... Mas, com certeza, é muito bom receber! Estou programando o próximo
álbum de estúdio para o primeiro semestre de 2018. Quem sabe este traga alguns
prêmios diferentes, talvez não troféus ou premiações, mas experiências e
felicidades que possam contar com satisfação daqui a mais cinco anos de
carreira.
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