COMO ESTRAGAR UMA ENTREVISTA

Não é difícil nos depararmos com entrevistas minadas por perguntas medíocres, ruins e que em nada aproveitam o entrevistado. Todo jornalista que se aventura na profissão já fez, pelo menos, uma delas uma vez na vida (e isso, claro, me inclui). Contudo, há aqueles que não se ligam, ou não têm competência, e passam a vida profissional repetindo sempre essas porcarias (isso não me inclui).

É o tipo da coisa que empobrece um papo. Primeiro, porque não exploram o assunto (cada um tem um assunto específico sobre o qual falar). Segundo, porque costumam render as mesmas respostas (normalmente superficiais e "automáticas"). Mas que raios de perguntas são essas? Bem, algumas das mais batidas são as seguintes:

- Quais são as suas expectativas para o show?
Essa é bem idiota quando não se existe algo realmente forte e importante (como, por exemplo, fãs que ameaçam quebrar tudo se a banda subir ao palco, etc). Afinal, nenhum músico sério responderia "são as piores possíveis! Esperamos viajar 10 horas de avião, carregar alguns quilos de equipamentos, passar o som e tal, e fazer um show com quase ninguém na plateia" ou "que o show seja sem graça e nós saiamos vaiados e no prejuízo".

- Que surpresa vocês prepararam para o show (ou disco)?
Para essa pergunta, até a minha vovozinha sabe a resposta mais comum: "Se eu contar, não será mais surpresa". Óbvio!

- Seus pais te apoiaram no início da carreira?
Dá coceira no cérebro só de ouvir essa. É uma das mais bobas e que só servem para perder tempo e espaço em uma entrevista (quando perguntada fora de contexto – maioria dos casos!).

- Poderia deixar uma mensagem aos leitores?
Se a entrevista é bem-feita e explorada, o leitor irá se sentir estimulado a ir ao show, comprar o álbum, a querer ingressar em determinada profissão, enfim. É o tipo da pergunta descartável e que também só rende respostas pré-fabricadas (como a das expectativas para o show).

- Se tivesse que ir para uma ilha deserta e só pudesse levar três dos seus discos, quais seriam?
Se o papo não está rendendo e o entrevistado está com aquela má vontade do cão, não será essa a pergunta que mudará o jogo. Normalmente, não é. Aliás, é a pergunta que acaba sendo o golpe de misericórdia de uma entrevista ruim.

Isso, sem contar aqueles papos que, na verdade, parecem mais um currículo do entrevistado dividido em tópicos do que uma entrevista. Ou seja, ao invés de perguntas só há coisas como "fale um pouco sobre isso e aquilo" (sempre começando com o "fale um pouco sobre"). Não traz quase nada de novo em relação ao que podemos achar na internet, em vários sites... como o do próprio entrevistado!

Não é que não se possa explorar tais assuntos. O que conta é a forma como se chega a essas respostas. Tudo é uma questão de contexto. Você pode fazer com que alguém lhe diga tudo isso acima citado usando caminhos alternativos. Ou seja, formas de deixar o papo bom de ser lido, com dinâmica (começo, meio e fim) e, consequentemente, com um conteúdo que torne aquela entrevista interessante.

Henrique Inglez de Souza

Comentários

  1. Concordo contigo!
    Sempre que vejo entrevistas com essas perguntas, imagino que o repórter não se preparou para entrevistar. Afinal, se você se informar à respeito, logo vai ver o que sempre é perguntado para tal banda, e tentar dar um outro enfoque, né?
    Explorar o que ninguém explorou é o maior desafio de um jornalista, sempre!
    beijo!!

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  2. É isso aí, além do que, o cara que se informou, irá explorar coisas muito mais interessantes e que, de repente, não são encontradas tão facilmente na internet. São esses caras sem noção que ajudam a deixar os músicos ainda mais de saco cheio para dar entrevistas.
    Beijo!

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