SE: DUAS LETRAS E UM ABISMO DE PAVOR

Olha, em dez anos de "estrada", tenho ouvido tanto de situações hipotéticas, de carreiras fenomenais, de sonhos mirabolantes, projetos incríveis e outras coisas que acabaram abafadas pelo comodismo (ou medo) do tal e inevitável "se". Poderia escrever sem parar sobre cada um deles (alguns, admito, meus). "Se eu tivesse feito isso... ", "se eu fosse... ", "se tivesse tentado... ". Escuto isso quase que diariamente, sem brincadeira!

Reclamar? Não, não posso – nem quero. Todo ser que se entende por humano se esconde em situações do "se". Não é generalizar. Estou apenas sendo realista (que tal ser realista comigo também?). Meu, quantas e quantas carreiras de músicos vejo irem para o azeite antes mesmo de eles arriscarem para valer?! Tudo porque constroem suas ambições em castelos de areia amparados pelo tal "se". E esses castelos são facilmente dizimados pela primeira onda do mar que aparece – a mesma onda que poderia transformá-los na maré emergente, saca?

Não basta ter boas ideias, boas intenções, apenas. É preciso ação, movimento. Não deixe que a preguiça ou o conforto do comodismo emocional lhe vença a energia natural de fazer valer as suas vontades (sem, claro, ser egoísta). Digo daquela força que temos de levar um projeto conjunto adiante e de fazê-lo acontecer. Não são as poses e fotos no Facebook que vão te levar a algum lugar – aliás, o que mais tem são covers e loosers fazendo caras e bocas para aparecer. Fuja dessa, por favor!

Não sou profeta de porra nenhuma e nem quero ser, mas acho válido dizer o que penso. E sinceramente acho a lacuna do "se" perigosa para qualquer aspecto da vida. Claro! Música nunca está só ligada a uma banda, às expectativas de uma grande rádio ou a qualquer coisa do mercado. Tem a ver com tudo o que você queira fazer de sua vida. E é essa amplitude que vai ajudar ou detonar a sua veia criativa (na música ou em qualquer outra área – inclusive se você for um(a) balconista de uma biblioteca municipal).

Ouça essa: para mim, o "se" é o veneno da culpa escorrendo lentamente pelo canto dos olhos, ou da boca, ou de seja lá onde for. Só sei que é o tipo da postura que traceja pela língua enquanto remói nossas lembranças, nossos anseios, nossos sonhos. O "se" é aquele recado expresso à consciência que assusta quem pode e desmancha a relutância dos que se acham fortes demais. Do fundo de minha filosifia barata, o "se" não tem tamanho, nem peso, mas é capaz de lhe ocupar o vazio que o medo e a insegurança lhe colocam no peito. Cuidado com isso!

Deixar para traz o que realmente lhe faz feliz ou o que te realize é a maior estupidez que possa preparar a você mesmo. É ridículo, pretensioso ou caro demais aos olhos alheios? Foda-se! O que você está vendo agora, pode me dizer? Então, me diga, pois é exatamente isso o que vou ver em sua música, sua poesia, sua arte, sua monografia, seu projeto de vida... enfim. Seja a sua essência! É exatamente como você se coloca diante de suas ambições que os outros irão te reconhecer, seja em casa, no trabalho ou na fila da padoca lotada. "Se" você está feliz com a vida que poderia ter e nunca terá, ok! Quem sou eu para questionar? Mas "se" você quer mais e sabe que pode mais, o que faz sentado aí nesse poleiro imaginário de uma gaiola que só existe em sua cabeça?



Henrique Inglez de Souza

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