ROCK [sic] IN RIO 4

Responda rápido: o que Ivete Sangalo tem a ver com Lenny Kravitz? Não vale dizer que são famosos da música! Enquanto você pensa aí, lá vai outra: o que têm Claudia Leitte, Katy Perry e Rihanna a ver com rock and roll? Quando for responder, aproveite e diga que raios estão fazendo em um megaevento, até onde imaginamos, dedicado ao rock coisas como Mixhell, Zeca Baleiro, Martinho da Vila, Emicida e tantas outras atrações do tipo.

É claro que eu estou me referindo à quarta edição do Rock in Rio! Não é preciso se esforçar tanto para notar isso. Vejo, ouço e leio tantas críticas sobre essa versão que até virou clichê descer a lenha. Mas não podemos deixar de lembrar que 99% dessas críticas são válidas e construtivas. Nada contra os artistas que estão fora da esfera rock (em alguns casos, nada a favor também). O que enche o saco é a iniciativa de quem organizou essa verdadeira feira da música.

Ok, desde a primeira edição houve atrações que destoassem do rock (mau indício, por sinal), mas o que estamos vendo neste Rock in Rio é algo que o porteiro do meu prédio vive dizendo: 'forçar a amizade'. É triste ver como um festival icônico, transformador, virou uma vitrine de shopping center, uma canequinha que compramos em lojas de suvenir. A começar pelo orgulho babaca do tal EU VOU e, depois, EU FUI. Bela merda! Parece aqueles passes que se ganha em parques aquáticos para poder usar todos os atrativos.

A impressão que dá é a de que o rock desse Rock in Rio está limitado, cercado, no que seria seu próprio ambiente. Se você pegar a programação e retorcê-la, amassá-la e insistir muito, verá que há realmente pouco de rock (com muito esforço, incluo o NX Zero no grupo do rock, hein!). E, mesmo assim, há coisas com as quais implico, tipo as atrações "os bons tempos estão de volta" (o que é uma grande mentira e não passa de um pega-trouxa que não se desprendeu do passado). Sim, me refiro ao Guns N' Roses (ou melhor, Axl N' Roses). Desde a emblemática passagem da banda na segunda edição do festival (1991), ficou perpetuada essa "nhaca" de sairmos de casa achando que iremos ver aquele mesmo grupo.

Mas tudo bem, vai! Apesar de não ser a mesma química, dos atrasos clássicos e dos chiliques de Axl, ainda é um show que vale a pena e tem a ver com a proposta. Mas daí achar que dá para se relevar Martinho da Vila no ROCK in Rio, complica. Como fã de boa música e eclético que sou, acho ótimo essa mistura de estilos, mas, então, que dê outro nome ao evento. Mas não! Na verdade, essa edição do Rock in Rio não deixa de ser um ótimo reflexo do que acontece na música do mainstream hoje em dia: é o culto à celebridade, aos clássicos enlatados e aos mestres de butique. Pegaram a arte chamada Música e a transformaram em um artigo descartável e meramente comercializável - digno, inclusive, de slogans como o do EU VOU!

E não pense que sou um implicante gratuito. Não é isso! É que, realmente, se você reparar, ainda estamos vivendo um momento de culto aos esqueletos do passado e também do já dito culto à celebridades. Pense nas grandes bandas que estão em atividade até hoje. Os últimos lançamentos são chatíssimos, sem inspiração, burocráticos ou repetecos do que já foi feito – salvo raríssimas exceções, tipo o AC/DC. Resultado: as pessoas vão aos shows para curtir os clássicos de 20, 30 anos (e até 40 anos) atrás. As novidades passam sempre quase despercebidas. Desse jeito, a coisa não caminha pra frente!

É por isso que rezo para que não haja reunião de Led Zeppelin ou Black Sabbath original para um "novo álbum de inéditas". Seria tacar merda no legado tão precioso que construíram. Respeitar e venerar o passado não é querer torná-lo o presente, embora haja quem goste. O próprio Rock in Rio acabou sendo enquadrado nesse tipo de amarra. Virou grife. Aí, entendemos por que tivemos tanta atração nada-a-ver em um festival que marcou o mundo do rock.

A próxima edição, prevista para 2013, já foi anunciada. Junto dela veio o meu receio de outro desastre cultural. Mas, sei lá, esperança é a última que morre, não é mesmo?

Henrique Inglez de Souza

Comentários

  1. Muito bem dito Henrique!

    E olha que como fui forçada a ficar em casa estes dias, acabei me aventurando a assistir aos shows ... e quer saber?! Foi complicado, muito complicado, concordo que tem artistas que são bons e extremamente responsáveis no seu segmento mas que vão contra a idéia principal do ROCK in Rio ... mas fazer o que né? Seguimos protestando como é possível ...

    Beijos



    P.S.: E a propósito, aliviada e feliz informo que: "EU NÃO FUI!" rsss

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  2. Hehe... Pois é! Nem eu fui, e com convicção fiquei! Mas é isso: o priblema é misturar um monte de estilos e vender como rock. Parece sopa aguada demais... Bjo

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