BLACK SABBATH: REUNIÃO OU PAPELÃO?



O Black Sabbath original voltou... de novo! Depois de algumas semanas de especulações com pinta de fato sendo consumado, o quarteto pioneiro do heavy metal oficializou a retomada das atividades. Até então, porém, negavam boatos, depois passaram a usar o tom do talvez e, aí, resolverem agendar uma coletiva de imprensa para um "misterioso" anúncio.

Pra ser honesto, esse mistério me soou tal qual a "surpresa" do bis em shows – acho que pra grande maioria de nós era a mesma sensação. O evento ganhou a mística data 11/11/11 e horário das 11h11. Qualquer um era capaz de saber que Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward iriam confirmar sua reunião. De fato, foi o que aconteceu e, junto da notícia, tivemos o anúncio de um disco de inéditas e uma turnê mundial para 2012.

Na hora, mal podia acreditar que eles estavam de volta. Não sei se é só porque sou muito fã da banda ou também se é pela falta de coisa boa na atualidade, mas fui tomado por uma alegria adolescente. Coloquei em alto e bom som 'Never Say Die', 'Sabbath Bloody Sabbath', 'Snowblind', 'Electric Funeral', 'Dirty Women', 'Symptom of the Universe', 'You Won't Change Me', 'Back Street Kids', 'Black Sabbath'… Passei uma tarde viajando pela obra deles.

Já no dia seguinte tive um momento de ressaca pós-embriaguês de heavy metal. Fiquei pensando no quão bom realmente será essa volta ou no quão frustrante poderá ser. Lembro que quando o Kiss original se reuniu e retomou o visual com as máscaras fiquei a pessoa mais feliz da Terra. Realizei um sonho de infância quando os vi assim em 1999. Porém, a coisa desandou para o lado extremamente comercial, "marketeiro", sem graça, pouco criativo e recauchutado que colocou o grupo na situação em que está: fazendo cover de si próprio.

Não quero reviver uma decepção musical outra vez. Conheci e comecei a gostar de Black Sabbath graças ao meu irmão Léo. Na época, eu tinha 9 anos e o disco novo do grupo era o fraco, mas legal 'The Eternal Idol' (1987), do hit 'The Shining'. Ele me mostrou tudo de todas as fases, incluindo o 'Seventh Star' (1986), com Glenn Huges e a densa balada 'No Stranger to Love'. Fiquei pirado! Hoje, escolado, tenho minhas preferências. Acho o 'Born Again' (1983), com Ian Gillan nos vocais, uma obra-prima. Os da era Dio (1980-1982 e 1992) também são excelentes. Com Ozzy, os que mais ouço são os maravilhosos 'Vol. 4' (1972), 'Sabbath Bloody Sabbath' (1973), 'Technical Ecstasy' (1976) e 'Never Say Die!' (1978, cuja faixa-título considero a melhor música da banda).

Não sou de jogar porcaria no ventilador de ninguém, mas também não vou mais de me empolgar com algo que não é exatamente aquilo que poderia ser (ou que parece ser). O Black Sabbath original se desfez em 1979 e protagonizou uma pontual retomada no festival Live Aid, de 1985. Só se juntariam para valer em 1997. Foi algo duradouro e até rendeu um ótimo disco ao vivo ('Reunion'/1998), embora traga duas canções inéditas sofríveis ('Psycho Man' e 'Selling My Soul'). Houve turnê e tal, mas, aos poucos, o pique esfriou e o projeto chegou ao fim. Some a isso performances de um modo geral fracas de Ozzy e Ward nos shows (nada como um YouTube para nos saciar a curiosidade). Tivemos o que se chama de tiro n’água.

Por conta de um histórico assim, a cautela me faz ser paciente em relação à ótima notícia deste novembro de 2011. Torço para que o novo álbum arrebente e esteja à altura, no mínimo, do trabalho menos legal que fizeram nos anos 1970. E espero que as performances nas apresentações não soem tão enferrujadas como as da referida última encarnação. O Heaven & Hell (aka Black Sabbath com Ronnie James Dio nos anos 2000), por exemplo, conseguiu manter o nível. Para a trajetória que o grupo tem, é fundamental acertar ainda mais as tacadas conforme os anos passam.

Posso até parecer exigente, mas acho saudável alguém que goste muito da banda não querer ver seus ídolos patinando no próprio legado. Vai ser algo tão deprimente quanto aguentar seu velho avô com aquela camisa Pólo amarela desbotada querendo mostrar as habilidades radicais no skate bem no meio da sua sala durante a noite de Natal. Papelão, não é mesmo? Então, sejamos pacientes e esperemos até o ano que vem para ver o que eles estão preparando. São os pais do heavy metal, afinal de contas, e por isso merecem nosso voto de confiança.


Henrique Inglez de Souza

Comentários