JUDAS PRIEST SEM K.K. DOWNING: FICAM AS BOAS LEMBRANÇAS

Foto: Arquivo Henrique Inglez de Souza

Neste 20 de abril, o site do Judas Priest publicou uma nota que deve ter deixado muito fã chateado: K.K. Downing saiu da banda! Sim, o grande guitarrista, membro fundador, abandonou a barca – o motivo ainda não foi revelado, Ficamos apenas com o trivial do "desejamos tudo de bom a ele".

Por um momento, pensei a respeito. Gosto bastante desses caras. Foram (são) parte importante do meu ensino fundamental de rock/metal. Por isso, começar a viajar no assunto foi imediato. Cheguei à conclusão de que baixas como essa, e a essa altura do campeonato, deixam a festa bocejante e incompleta.

Bom, os últimos discos do Judas andavam meio chatos mesmo, mas pelo menos a química era boa e estava pulsando. Isso nos garantia apresentações de enrugar o chão. Agora, não sei como será – eles virão ao Brasil em setembro –, mas algo me diz que não terá a mesma graça (será meio parecido com o que o grupo foi quando tinha o Tim Ripper Owens nos vocais).

Por outro lado, a viagem em que me meti depois de ler a notícia sobre o K.K. Downing me fez ponderar as coisas. Afinal, os caras estão há mais de 40 anos na estrada (são de 1968) e, goste ou não, tudo um dia acaba. De repente, ele estava de saco cheio e quis curtir a vida de outra forma. Normal...

Portanto, enquanto não descobrimos o real motivo da saída do guitarrísta, fiquemos com as boas lembranças. E, de Judas Priest, além dos discos e dos clássicos, que, esses sim, são inoxidáveis e (para mim) eternos, guardo ótimas impressões das entrevistas que fiz justamente com o K.K. Downing. Teve o lado sacal, sem dúvida, que foi aguentar a pouca disposição de Glenn Tipton (o outro guitarrista da banda) para falar – e ele não fez a menor questão de disfarçar isso. Mas o lado bom prevaleceu.

Foi assim: a banda estava promovendo o "estranho" 'Nostradamus' (2008), um álbum que tem ótimas faixas, mas que não, digamos, engrena... entende? Pois bem, consegui um phoner (entrevista por telefone) com o K.K. Downing. O papo foi bem legal e produtivo, só que, para os 20 minutos padrões desse esquema de entrevistas, não deu para perguntar tudo o que eu queria. Ele falou a beça... tipo, a primeira resposta dele teve quase 6 minutos!

Quase no momento de a assessora da gravadora entrar na linha para dizer que o meu tempo havia se esgotado, dei uma "choradinha" para o guitarrista do Judas – artimanhas jornalísticas. Lamentei que o tempo não havia sido suficiente e tal, e ele, na maior da boa-vontade, disse: "Se você quiser, podemos terminar a entrevista no Brasil, quando estivermos aí" (eles iriam se apresentar por aqui em alguns meses). "Opa, seria ótimo!", respondi. "Como podemos fazer para marcar isso?". E ele: "Fale com o pessoal da gravadora daí que eu vejo com o pessoal daqui". E assim foi.

Pra ser sincero, não botei muita fé, já que o número de "balões" jornalísticos que tomei é maior do que casos desse tipo que realmente deram certo. Mesmo assim, claro, tratei de armar o que combinamos (a esperança é a primeira que nasce e a última que morre, não é mesmo?). Para a minha grata surpresa, o K.K. Downing havia mesmo conversado com o pessoal da gravadora e a entrevista rolou. Foi em São Paulo, no Credicard Hall (local do show), pouco antes deles subirem ao palco – em novembro de 2009. Aliás, o resultado foi melhor do que eu esperava. Também pude conversar com o Glenn Tipton, o que me rendeu uma entrevista completa.

Primeiro, falei com o Tipton, que, como já disse, estava num saco-cheio clássico e, por isso, deve ter feito um esforço tremendo para me responder às perguntas. Mas respondeu e é o que importa, embora isso tenha me desconsertado um bocado. Mas, para meu alívio e alegria, quando K.K. Downing apareceu na sala reservada a mim, o clima mudou rapidamente.

Bem-humorado, disposto e simpático, ele foi atencioso e respondeu com vontade o que lhe perguntava. Mesmo se eu perguntasse algo completamente idiota e sem nexo ele me responderia com uma boa-vontade de dar inveja a qualquer atendente de telemarketing experiente. Gostei tanto que fiz questão de pedir para tirarmos a foto que você pode ver estampando este texto.

Os bons momentos que todos nós passamos nessa vida merecem ser celebrados e essa foi a forma que encontrei para tanto. Pude dizer um "valeu!" ao K.K. Downing pelas músicas que o Judas Priest lançou e que tanto significam para mim. Hoje, depois de saber de seu desligamento da banda, sinto um orgulho ainda mais especial por isso.

Henrique Inglez de Souza

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