SEU ZÉ IS BACK IN TOWN?

Essa foi ótima!

São dez da manhã de um feriado... bem no meio dos dias de folga. Nenhum sujeito que tenha os miolos dentro da validade consegue pensar direito a essa hora, ainda mais depois de uma noitada da boa. Ontem foi uma daquelas clássicas: amigos e papo rolando até sabe-se lá quanto os ponteiros do relógio marcaram. Lembro que o sol já mandava seus primeiros raios para expulsar a lua e o que sobrou de estrelas do céu.

Sou daqueles que creem que o dia não vira enquanto não dormimos. Então, o papo só acabou quando fomos convidados a ir embora pelo dono do bar, um senhor muito do mal-encarado e com ar de quem está louco para se mandar rapidinho. Ele chegou segurando uma daquelas cadeiras dobráveis (já pronta para ser guardada), com um paninho de prato imundo acomodado no ombro, e perguntou sem a menor simpatia: "Vocês ainda vão demorar muito? Posso trazer a conta ou o quê?". Claro, respondemos em uníssono.

Depois desse tratamento nada VIP, veio a tortuosa volta para casa. Eu estava usando uma camiseta do Thin Lizzy, uma das minhas bandas de cabeceira. E foi espantoso: assim que passei pela portaria do prédio em que moro, o gente fina do porteiro da manhã, o Seu Zé, soltou um: "É isso aí, Phil Lynott". (Tecla SAP: Phil Lynott era o líder desse grupo irlandês. Tocava baixo e cantava). Aquele comentário cortou na hora o efeito pesado do sono que eu sentia. "Hein?", reagi.

E o cara, que até outro dia dizia estar louco pra saber quem é que havia sido eliminado na "berlinda" de um desses execráveis reality shows, me vem com uma dessa depois de ver a minha camiseta. Eu achei ótimo, e o meu "hein?" foi justamente para investigar mais. "Eu gostava do 'Tin' Lizzy. Tinha os discos e tudo", ele respondeu. Parei ali pra conversar mais e descobri que ele “arranhava uma 'guita' [guitarra]" e tinha até uma Les Paul "guardada em algum lugar". Não era Gibson. "Eu tocava a 'Boys, Béqui e Tal'", disse, querendo se referir ao clássico 'Boys Are Back in Town'. "Caramba", me espantei de novo.

Não sabia o que pensar. Aliás, não conseguia pensar direito. Foi então que ouvi o outro funcionário do prédio falar para uma moradora "já é (sic) dez hora (sic de novo)". Dez da matina de um meio de feriado e eu pasmo. Já que o sono havia ido embora, cheguei em casa e não tive dúvida: coloquei 'Boys Are Back in Town' pra tocar – a versão poderosa do disco 'Live/Life' (1983), com John Sykes e Scott Gorham nas guitarras. Nem me preocupei se o volume poderia ser incômodo aos vizinhos. Talvez estivesse, mas ninguém reclamou. De repente, o Seu Zé preferiu fingir que não era ali, só pra relembrar um pouco do 'Tin' Lizzy que um dia curtiu pacas.

Henrique Inglez de Souza

Comentários

  1. Delícia de crônica! :)
    Sobre o Seu Zé, é por essas e outras que eu adoro observar as pessoas... gente é sempre surpreendente!
    Parabéns pelo trabalho.

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  2. Valeu, Thá! :D
    Pois... ZÉ!! Heheh A surpresa está mesmo no inusitado e não no desconhecido. Valeu pelas palavras! ;)

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