Titãs: Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas

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Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, esse é um dos nomes de disco mais legais. O título perfeito para um álbum que beira isso, a perfeição. Desde a primeira vez que ouvi falarem desse trabalho, tudo me agradou. E cheguei numa hora boa: os Titãs estavam em sua melhor forma, derramando inspiração e criatividade. Reinavam em seu terreno com um carisma realmente ímpar.

O som dos instrumentos em geral (incluindo as vozes), o brilho da bateria, a produção impecável do Liminha. O esmero em cada detalhe dessa obra tornou fácil a digestão de boa parte de suas 12 músicas. Muito além da discografia do grupo, então com sua principal formação, esse repertório consolidou uma fatia generosa do rock brasileiro oitentista. 

Comida, Corações e Mentes, Mentiras, Diversão, Desordem, Lugar Nenhum, Nome aos Bois e a faixa-título são rajadas com vida própria, personalidade e tonalidades bem distintas. Comecei a conhecer os Titãs pra valer com o irretocável Cabeça Dinossauro (1986), e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas foi a sequência mais acertada.

Era um universo sem fim viajar pela química de Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto. As expectativas que surgiam quando eu ficava sabendo de um novo trabalho deles me colocaram diante de uma perspectiva que tanto faz falta atualmente (não só em relação ao que restou do grupo, mas na cena mesmo). Dava gosto esperar e conferir o que vinha - ainda que não houvesse unanimidade no que me agradava.

Acho que poesia, irreverência e criatividade com a não linearidade são características fortes dos Titãs. Eles souberam combinar esses ingredientes com brilhantismo e acesso livre a todos os tipos de público – do cabeça-xarope ao rocker clássico. Acertaram de tal forma que eles próprios, os remanescentes, se revisitaram inúmeras vezes nestes últimos tempos. Nada como ter um background de peso com que contar quando a inspiração perde força.

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