Alessandro Penezzi fala do disco com Yamandu Costa que sai este mês

(Imagem: Reprodução)

Dois dos maiores violonistas brasileiros na atualidade juntaram forças em um disco que sairá na próxima semana. O gaúcho de Passo Fundo (RS) Yamandu Costa e o piracicabano Alessandro Penezzi registraram sua devoção ao violão nacional em Quebranto. O trabalho será lançado pelo selo Biscoito Fino no dia 26 de maio. O repertório traz um misto de parcerias entre eles, composições de cada um e regravações. “É uma coisa que nos devíamos e que devíamos, até, ao violão brasileiro”, comentou Penezzi. Leia a entrevista com o músico paulista a seguir.

Como nasceu Quebranto?
Nasceu de uma vontade mútua que a gente tinha de fazer um disco juntos. Há uns dez anos, nos encontramos na casa dele e começamos a compor. Gravamos de forma caseira algumas músicas. Porém, só mais tarde resolvemos terminar o álbum, colocando a ideia no papel. Conheço o Yamandu há bastante tempo, desde quando fui morar em São Paulo, por volta de 2002. Já de cara ficamos bastante amigos, como se já nos conhecêssemos.

Durante quanto tempo vocês trabalharam nas composições e nos arranjos?
Se for somar todo o tempo que levamos para a concepção e a composição desse disco, são anos. Começamos a escrevê-lo pra valer há uns três, quatro anos, porém, a ideia surgiu antes – daquela vez que disse, quando fui a sua casa. Quebranto tem composições minhas, por exemplo, Dayanna, que o Yamandu quis gravar – disse que é nosso hit [risos]. Ele já havia gravado essa música em meu disco de 2006. Depois, incluiu em seu álbum Lida [2007]. Gostamos bastante de tocá-la, e gravamos novamente.
O material também tem músicas do professor dele, o Lúcio Yanel, uma do Sérgio Belluco, Valsa Seresta N° 1... Enfim, há faixas nossas, como Chico Balanceado e Valsa Morena, dele e minhas também.

O quanto a questão geográfica complicou o trabalho?
Essa questão atrapalha porque não podemos nos encontrar para tocar, efetivamente. Resolvemos isso algumas vezes com contatos via Skype, WhatsApp, e-mail, e foi assim. Quando já tínhamos um número razoável de composições e precisávamos ensaiar os arranjos, marcamos de eu ir para lá, à casa do Yamandu.

Quebranto celebra o violão brasileiro. Quem, exatamente, ganhou referência no trabalho – há alguém?
O violão brasileiro é um personagem de muitas caras – desde a latina, desse sangue latino, da coisa de energia e de força que vem da influência espanhola, ao violão negro, crioulo, gaúcho... Na verdade, não há um intérprete especificamente ali, mas a alma do violão. Buscamos, por meio de pinceladas sonoras, dar nossa visão.

Quais são algumas das principais peculiaridades do violão brasileiro?
Diversas, mas eu diria a mão direita [mão do dedilhado, para os destros], que é vigorosa e tem bastante da questão da levada, dessa coisa percussiva que vem da raiz afro. Ao mesmo tempo, trabalha muito a polifonia e preza pelo virtuosismo, por causa da influência flamenca, espanhola. É um violão de inúmeras peculiaridades.

A capa de Quebranto é um destaque à parte.
Também gostei muito, é um desenho do Stephan Doitschinoff. Houve uma primeira capa que quase foi escolhida. Era mais conceitual: tinha uma ferradura com um fundo branco, nossos nomes e o título, Quebranto, escrito de maneira que parecia meio com a cara de um boi. Acho que era para dar uma ideia de vigor, de força, ou até de espantando o quebranto...
Mas a capa que ficou realmente diz bem mais. Tem uma coisa meio cigana, que, aliás, é uma de nossas influências. Quando falamos de música espanhola, flamenca, inclui a veia cigana, que traz toda uma bagagem meio mística, exotérica.

Por onde começarão a promover Quebranto?
Ainda não há nada definido. Tudo será tratado com a Biscoito Fino, que é a gravadora pela qual sairá o disco. Faremos uma reunião para acertar essas coisas.

O que mais poderia dizer sobre esse encontro, Yamandu Costa com Alessandro Penezzi?
Aquilo que era uma promessa que sempre nos fazíamos concretizou-se nesse disco. É um projeto que me deixou extremamente feliz, porque sou fã incondicional do Yamandu, tanto pelo compositor excepcional como pelo violonista sem comparação, sem amarras, que ele é. Para mim, é uma honra muito grande! Fiquei bastante contente de ele ter se lembrado dessa ideia nossa.

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