A reverência de Caetano à steel guitar de Rick
Poucas, muito poucas, foram as ocasiões
em que Rick Ferreira trabalhou com Caetano Veloso. Entretanto, renderam
passagens boas de se lembrar. Ambas aconteceram em anos próximos: 2002, para o
álbum Eu Não Peço Desculpa, do artista baiano em parceria com Jorge
Mautner, e 2004, para o projeto O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas,
em que juntos interpretaram o clássico Maluco
Beleza.
Na primeira, o guitarrista colaborou com
a faixa Tarado, a convite do produtor
do disco, Alexandre Kassin. Ele queria incrementar o registro com steel guitar.
“Fui até o estúdio e o Caetano ainda não havia chegado. Então, comecei a passar
a música”, conta Rick. “O Kassin ia gravando enquanto eu tocava, e me falou:
‘Para meu gosto, está muito country music o tipo de fraseado que fez. Acho que
ele vai querer algo diferente’. Mas quando o Caetano apareceu e ouviu, disse:
‘Não mexa em nada! Quero do jeito que está. Ficou lindo, não mexam’ [risos]”.
Surpresa boa também marcou a segunda vez
em que ambos trabalharam. Cerca de dois anos após Eu Não Peço Desculpa,
Caetano topou participar do show repleto de convidados em homenagem a Raul
Seixas. A performance para O Baú do Raul aconteceu no dia 31 de
agosto de 2004, na Fundição Progresso (Rio de Janeiro/RJ). Também marcaram
presença nomes como Marcelo Nova, Lobão, Sandra de Sá, Gabriel O Pensador, Toni
Garrido e Pitty.
O envolvimento do tropicalista deu-se
rondado por algumas peculiaridades. Uma delas é que, ao contrário dos demais,
ele não ensaiou no Estúdio Hanoi, de Arnaldo Brandão (que dividiu a direção
musical do DVD com Rick Ferreira). A química entrou nos trilhos horas antes de
subir ao palco, durante a passagem de som. Funcionou sem entraves e com um
tempero extra.
“Na maior parte das canções, respeitamos
as versões originais. Porém, sempre tive na cabeça um arranjo para Maluco Beleza, o qual queria colocar em
prática. Mostrei ao Caetano, e ele adorou”, explica o guitarrista. “Nessa minha
releitura, o solo fica na parte ‘A’ da música e uso steel guitar, coisas que
não tem na gravação do Raul. Na dele, é um solo de slide, feito pelo Lee
Ritenour.”
Houve até um momento de reverência, pelo
que reparou mais tarde um amigo de longa data e competente produtor. “Depois de
assistir ao DVD, o Sérgio de Carvalho me chamou a atenção para a hora do solo.
Primeiro a plateia inteira me aplaude e então o Caetano se vira para mim e me
observa. O Sérgio ficou impressionado: ‘Rick, repare no olhar de respeito dele
para você!’.”
E aqui cabe um adendo para Sérgio de Carvalho.
Ele é irmão do Dadi e do Mú Carvalho, músicos conhecidos pela banda A Cor do
Som e outros projetos. Além de ter produzido uma série de medalhões, foi o
responsável por uma ponte fundamental. “É meu amigo de infância e o cara que me
colocou em contato com o Raul Seixas, quando ele quis me conhecer”, finaliza
Rick Ferreira.
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