Belchior e Rick Ferreira, uma gênese por trás da história
Durante a produção de Era
Uma Vez Um Homem e Seu Tempo/Medo de Avião (1979), surgiu a ideia de
uma parceria entre Belchior e o guitarrista Rick Ferreira. Foi o cantor e
compositor quem teve a iniciativa: “Rick, a gente tem que fazer uma música para
eu gravar”. A vontade, recorrente, acabou se perdendo pela correria dos
compromissos de ambos (e também por enrolação deles).
Conhecido pela longa atuação com Raul
Seixas, Rick colocou sua guitarra a serviço de diversos outros artistas. Com o
hoje saudoso músico cearense, atuou na segunda metade dos anos 1970. “O Bel era
um cara muito fino no tratamento. Era excepcional”, conta. “Assim como o Raul, era
educado no jeito de falar e de pedir as coisas. Talvez por essa razão tenhamos
nos dado tão bem. Era gratificante trabalhar com uma pessoa como ele.”
Essa afinidade consolidou-se em cinco álbuns
seminais: Alucinação (1976), Coração Selvagem (1977), Todos
os Sentidos (1978), Era Uma Vez Um Homem e Seu Tempo/Medo de
Avião (1979) e Objeto Direto (1980). “Em todos,
gravei todas as músicas. A exceção foi Coração Selvagem, no qual toquei
apenas em Paralelas, Todo Sujo de Batom, Galos, Noites e Quintais e na faixa-título.”
No início dos anos 1980, Belchior havia
ido morar em São Paulo. Certo dia, quando retornou à capital fluminense para um
compromisso, telefonou ao amigo. “Ele estava no hotel Atlântico Copacabana,
onde fui encontrá-lo”, lembra-se. “Me deu uma letra e disse: ‘Ó, nossa parceria
vai ter que sair! Aqui está uma letra que fiz para você colocar a música’.”
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(Foto: Henrique Inglez de Souza) |
A missão não foi fácil. Rick teve
dificuldade para encontrar os melhores acordes, e a coisa empacou por um tempo.
“Cara, sou péssimo em musicar letra”, admite. “Prefiro mil vezes fazer a
música, a melodia, e dar para alguém colocar um texto em cima. Eu tentava algo,
e não saía nada!” O marasmo criativo só terminou após um raio de memória lhe resgatar
uma composição que havia feito aos 17 anos e que nunca aproveitara.
Solução perfeita, segundo o guitarrista.
“Não precisou mudar nada. Foi uma coisa feita para a outra”, empolga-se. “É
difícil isso acontecer, de você pegar uma letra que já existe e uma música também
existente, juntá-las e dar certo sem ter de fazer mudanças.” Nascia, então, Meu Nome é Cem. A faixa entrou no
repertório da coletânea Super New Disc, que a Warner Music (na
época, WEA) lançou em 1981. Sua levada alegre com timbre acústico baila por
nuances country adornadas com banjo e steel guitar.
Além de Rick Ferreira (violão, guitarra,
banjo, steel guitar), participam do registro Téo Lima (bateria), João Baptista
(baixo) e Áurea Regina (harmônica). “Fizemos uma base crua, com violão, baixo e
bateria, e depois o arranjo foi surgindo. Era alegria pura, tanto da parte do
Belchior quanto de minha. Cada instrumento que eu colocava, vinha uma expressão
de satisfação dele. Foi uma emoção!”
A parceria, ironicamente, selou o fim de
um período produtivo, iniciado em 1975. Dali ambos percorreriam os rumos que
suas carreiras traçaram separadamente. Só voltariam a se encontrar em 2005,
para uma segunda versão do projeto O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. “Quando soube
que ele iria participar, fiquei superfeliz. Nos vimos antes do show, almoçamos
e relembramos várias gravações e coisas legais.”
O abraço de despedida que trocaram,
embora evidentemente não soubessem, celebraria em definitivo aquela química
especial embutida em suas histórias. “Foi a última vez que estive e
conversei pessoalmente com ele”, finaliza Rick Ferreira.
Ouça Meu Nome é Cem no player abaixo.
Ouça Meu Nome é Cem no player abaixo.
Como tudo que vocês fizeram, maravilha!!!
ResponderExcluirDemais Rick, " Como vivo comovido dizem que sou um bandido marginal "
ResponderExcluirQ demais
ResponderExcluirSem dúvidas.. o melhor LP do Belchior foi o de 79...e o grande musico Rick tava junto.."Era uma vez um homem é o seu tempo"
ResponderExcluir*e o seu tempo..
ResponderExcluirMeu cordial brasileiro...Brasileiramente Linda...Medo de Avião II... Monólogo das Grandezas do Brasil...etc
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