"É o trabalho de uma vida inteira", diz Marcelo Gross do novo disco solo. Ouça single!
Marcelo Gross divulga nesta sexta-feira
(28) um novo single de seu próximo disco solo, Chumbo & Pluma. A
canção chama-se Me Recuperar e poderá ser encontrada nos canais digitais do guitarrista e vocalista gaúcho. É a
penúltima amostra antes do lançamento oficial do registro, previsto para 26 de
maio, via DaFne Music. Ouça no player logo após a entrevista.
O sucessor de Use o Assento Para Flutuar
(2013) será duplo, com uma porção mais roqueira pesada (Chumbo) e outra com
baladas acústicas bem tranquilas (Pluma). Até aqui já haviam sido
apresentadas as faixas Purpurina e Morangos & Maçãs. A produção ficou
nas mãos do próprio Gross, juntamente com Lucas Mayer (DaFne) e Clayton Martin
(Cidadão Instigado).
Você
é um dos membros fundadores e um dos principais compositores da Cachorro
Grande. O que te faz querer lançar um disco solo?
No início da Cachorro Grande, eu escrevia
a maior parte do material. Gostava bastante disso. Era algo que me movia. De
uns discos para cá, os guris começaram a escrever também. Ficou uma coisa
democrática. Como componho em grande quantidade, tenho muita música, e é isso o
que me move a fazer um registro solo. Já há algum tempo, é a maneira que me
expresso completa e artisticamente melhor. Não considero meu som parecido com o
da Cachorro Grande, principalmente esse disco, Chumbo & Pluma, que se
distancia bem.
E também tem muito de querer fazer as
coisas da forma que gosto. Meu trabalho solo dá a liberdade de agir assim – o
que acontecia no início da banda e agora não mais. Tudo tem que passar por uma
votação, e como sou o autor das canções, há coisas que quero que saiam do meu
jeito, como as músicas apareceram na minha cabeça. E meio que cansei de só
fazer o que os outros querem, sabe?
Você
se incomoda com essa falta de espaço criativo na banda?
Não, de maneira alguma! Acho legal, mas
de alguma maneira tenho que me expressar, e não é mais dentro da banda que
consigo colocar para fora tudo o que tenho a dizer. Mas isso só agrega, só vai
ajudando a banda a ficar bem diferente e irmos para lados que não pensaríamos
se continuássemos como antes.
Como nossa dinâmica mudou, e tenho
bastante música, preciso colocar isso em outros projetos, como está acontecendo
agora. Lógico, muito poderia ter entrado nos discos da Cachorro Grande. Porém, como
não tenho mais espaço, tenho de fazer isso sozinho.
Qual
é o tipo de peculiaridade de sua abordagem que fica mais realçada em sua
carreira solo e menos agora na Cachorro Grande?
As composições em si, as letras mais
pessoais, a forma como toco com a banda, enfim, acho que é tudo diferente. Me
mostro por completo. Gravo mais relaxado, sem metrônomo, em um ambiente
tranquilo e de uma maneira que consiga revisar tudo direitinho, para sair como
quero. Na Cachorro Grande é todo mundo falando ao mesmo tempo, dando pitaco.
Quando
compõe, seu critério é sempre a semelhança com algo que uma de suas influências
tenha feito?
Às vezes, sai do nada, de começar a
tocar e surgir um riff, uma melodia. Lógico, tem a coisa da influência
inconsciente, do que você tem escutado naquela semana e que povoa sua mente. Aquilo
aparece de alguma forma no que está fazendo. É um pouco das duas coisas:
aparece do nada e vem daquilo que estou ouvindo.
Qual
é a faixa mais esquisita do lado "chumbo" e a mais esquisita do lado "pluma"?
Não tem muita esquisitice, não. Algumas
músicas têm suas peculiaridades. Há uma chamada Quando Ninguém Se Importa, do Chumbo, que é um funk anos 1970
misturado com um dub jamaicano e bastante eco de fita. Essa é bem diferentona.
No Pluma
há faixas de voz e violão com orquestra. Quase
Fui e Quero Estar têm um clima
bem Neil Young da época do Harvest. Há bastante coisa. São 20
músicas que passeiam desde influências de Mutantes, Buffalo Springfield, John
Lennon, Neil Young e Arnaldo Baptista a pegadas bem delicadas de jazz e Simon
& Garfunkel, além do Álbum Branco [Beatles], que meio que permeia todas as composições.
Qual
é sua maior ilusão no rock nacional?
Cara, não tenho ilusão nenhuma. Tenho
muito pé no chão de que preciso batalhar, trabalhar bastante, sem ficar
reclamando. A coisa está cada vez mais difícil. O Brasil é o país do sertanejo
universitário, evangélico, cada vez mais politicamente correto, cada vez mais
dominado por um pensamento burro e retrógrado, de mente fechada. Mas o rock
está aí para explodirmos tudo isso e botar tudo pra foder, sabe? Então, não
tenho muita ilusão, não. O que tenho é vontade de seguir trabalhando, apesar
das dificuldades. Como disse, não sou de ficar reclamando, sou de realizar e trabalhar
com as ferramentas que a gente tem.
O grande objetivo é seguir fazendo rock
and roll. Nos sustentamos já há 17 anos nisso. A parada é que as adversidades
são cada vez maiores, mas não iremos nos lixar por causa disso. Lógico que um
dia eu pretendo me aposentar e não fazer mais nada, porque essa porra toda
enche o saco. É muita gente burra e ignorante, saca? Por outro lado, toda a
galera que é legal, todo o carinho do público, nos faz estar na estrada. É para
o público que fazemos essas coisas e o motivo de estarmos lançando disco. Enquanto
houver quem nos assista e nos ouça, estaremos aí.
O
que você ainda não disse em uma entrevista que gostaria de dizer agora?
O que eu não disse é o que não tinha que
ter dito mesmo [risos]. Brincadeira...
Estou muito feliz com o resultado desse disco que vai sair. Como Chumbo
& Pluma inclui diversas músicas antigas, não é só um disco de
momento. É o trabalho de uma vida inteira, que reflete minha carreira, as
coisas que vivi de uns 20 anos pra cá. Espero que a galera curta.
O título reflete a polaridade que vivemos
hoje em dia, de as pessoas serem ou preto, ou branco; ou Beatles, ou Stones. O
álbum tem essa coisa da dualidade, de uma porção rock e outra balada.
A ideia dos dois lados é a de que todo
mundo possa viver em harmonia, de que as pessoas com convicções diferentes
consigam viver em harmonia, cada um com sua opinião e sem precisar excluir o
outro. Essa é a mensagem que o disco irá passar.
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