Lanny Gordin, uma alma nobre na música brasileira
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Foto: Henrique Inglez de Souza |
Lanny Gordin não é uma lenda. É um cara de alma pura, o músico com a alma mais pura que já conheci pessoalmente. Sua atitude e o jeito de ser vêm empacotados por uma simplicidade tão grande que contagia. É um cara de fala doce, amansada e livre de juízos. Você troca duas palavras com ele, e logo se sensibiliza com a grandeza do espírito que recheia aquele corpo magro e estradado pelos anos. Passamos longe do que o ato falho nos induz a imaginar de um artista extremamente criativo e atuante entre os anos 1960 e 1970 sugere.
O guitarrista é chinês de Xangai. É um “made
in China”, só que não! Embora seu nascimento tenha realmente ocorrido no país
oriental, em 1951, ele é brasileiro – para mim, é e ponto-final! Seu talento
foi posto a serviço de um capítulo essencial da MPB, incluindo Caetano Veloso, Erasmo
Carlos, Jards Macalé, Rita Lee e Gal Costa. Gravou e/ou arranjou discos
memoráveis, entre estes Caetano Veloso (1969) e Araçá
Azul (1972), do Caetano, Gilberto Gil (1969) e Expresso
2222 (1972), do Gilberto Gil, e Fa-Tal - Gal a Todo Vapor (1972), da
Gal Costa. É um ás no que faz e um gentleman nas notas que escolhe.
Sim, Lanny teve problemas com as drogas,
e sérios, os quais o afastaram da cena por alguns anos. Isso, porém, não anulou sua vocação para a música. Em minha opinião, foi um rito de passagem para a forma como atua hoje em dia (ou melhor, desde o princípio dos anos 2000). Distante da
psicodelia guitarrística jimi-hendrixiniana (marcada pelo inconfundível efeito
do fuzz) com a qual escreveu seu nome, ele explora sonoridades mais delicadas,
sutis, regadas a out notes amparadas pelo jazz, e não mais o acid rock de
outrora.
Entrevistei Lanny algumas vezes. Em uma
delas, para a revista Guitar Player, me disse algo bonito por si só, pela
mensagem: “Estou a
caminho da música pura, que é um som só, sem nenhum defeito. Não penso em
vaidade porque nunca fui vaidoso. Na verdade, nem sei o que é isso. Escuto
falar a respeito e pergunto: ‘O que é vaidade?’ Ninguém conseguiu me explicar [risos]”.
Em seguida, completou: “Me parece que só quem
toca música pura são os anjos. É um ideal atingível, mas trata-se de uma
questão de tempo. É preciso tocar bastante até chegar a hora certa – tudo tem a
hora certa na vida, não é?”
Perguntei-lhe, então, quem já havia visto fazendo
a música pura. “Ninguém, porque imagino a música pura como outro som, que ouço
em um riacho, nas ondas do mar, no vento... Esses sons da natureza”, respondeu.
Essa entrevista foi publicada na matéria
de capa especial em que trabalhei, para o número 200 da Guitar Player, de dezembro de
2012. Além do Lanny, conversei com cinco guitarristas emblemáticos brasileiros:
Sérgio Dias, Luiz Carlini, Pepeu Gomes, Frejat e Edgard Scandurra. A ocasião
mereceu uma sessão de fotos exclusiva com todos. Uma experiência
inesquecível, afinal, não é sempre que se consegue juntar um povo desse
quilate. Acompanhei desde os preparativos às conversas, risadas e inúmeras
lembranças dos bastidores da música brasileira que rolaram ali, no estúdio. As imagens que escolhi para
ilustrar este texto foram cliques que fiz (como testemunha ocular. Não assinei a foto de capa da revista). Traduzem a descontração que puxou
o lado cômico e sarrista dessa querida figura que é Lanny Gordin. Eu também
gravei uns vídeos. Quem sabe qualquer hora venço a preguiça e resolvo prepará-los para divulgar.
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Foto: Henrique Inglez de Souza |
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