Praia Futuro: músicos da Nação Zumbi e Cidadão Instigado com o dono da Nublu Records
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(Foto: Divulgação) |
O Praia Futuro é um projeto novo, basicamente instrumental, com gente oriunda de glebas distintas da música. A maioria é brasileira: Dengue (baixo), da Nação Zumbi, e a dupla Yury Kalil (bateria) e Fernando Catatau (guitarra), do Cidadão Instigado. O estrangeiro é o compositor sueco-turco Ilhan Ersahin (saxofone, teclado), provavelmente mais conhecido por ser o fundador do Nublu (clube e gravadora independente dos EUA).
O homônimo álbum de estreia deles saiu este
mês, disponível em todas as plataformas digitais. O que encontramos é um som
relaxante, com viagens contagiadas pelo clima do fusion, melodias cativantes e
um timbre de rock cru, rouco e envolvente. Seja para preencher um ambiente,
seja para curtir atentamente, o repertório se faz presente. Há passagens que te
fisgam os ouvidos – e digo isso, pois costumo achar um tédio rock/metal, jazz e
blues instrumental.
Parece que o quarteto toca, ensaia e
compõe junto há um tempo, mas não. O material nasceu de supetão. Bateu a
vontade de gravar, eles combinaram de se encontrar em Fortaleza/CE, e tudo
rolou em corridos três dias intensos. Há uma unidade realmente sólida, musical.
Apesar de a descrição na página do Praia Futuro dizer que o projeto pode ser considerado "um descendente
espiritual de um movimento que se formou no nordeste brasileiro no começo da
década de 1970", Ilhan tem outra opinião. Leia na entrevista abaixo.
Escrever
e gravar um bom álbum de estúdio em somente três dias não é tarefa fácil. Como
tudo aconteceu?
[Rindo]
Bem, não diria que nós realmente escrevemos um álbum. A coisa toda começou
basicamente de sermos amigos e resolvermos nos juntar para tocar de verdade. Nós
já nos encontramos e várias situações, e dessa vez aconteceu de decidirmos
tocar e gravar, em vez de só tomar cerveja e conversar. Então, a "regra" foi
meio que a seguinte: "Vamos ao estúdio e ver o que rola".
Nada foi planejado ou preparado. Simplesmente
fomos ao estúdio bem legal do Kalil na bela Fortaleza e começamos a fazer uma jam.
Algumas coisas, o Dengue iniciava, outras era eu quem dava o start ou o Kalil ou
Catatau. Bem, música é como uma conversa – pelo menos, a música de que gosto –,
então, esse esquema fez todo o sentido. Fizemos jams, depois ouvimos o que
registramos e aí, coletivamente, escolhemos o que estava funcionando e o que
não estava. Selecionamos, essencialmente, as ideias mais fortes e as
desenvolvemos. Tudo de uma forma bem básica, se você segue apenas seu coração e
seus instintos.
Fiquei
sabendo que vocês quase não dormiram durante o processo. Essa é uma boa maneira
de se inspirar em um esquema de trabalho non-stop?
Sim, mal dormimos, pois realmente
tínhamos apenas três dias. Não queríamos que as sessões fossem daquelas que
ficam arquivadas por um ano e tal, como sei que muitos músicos fazem. A missão
era terminar o álbum e sair contente com o resultado. Por isso que o trabalho
foi intenso e quase não pregamos os olhos. A inspiração foi e é a amizade e o
respeito que temos uns pelos outros.
A
que tipo de artistas brasileiros vocês recorreram como referências para a
sonoridade da banda?
Não usamos qualquer gênero ou grupo
específico como inspiração. Todos nós tocamos há um bom tempo, e a beleza desse
disco está justamente no fato de sermos quem somos. O Catatau toca Catatau, eu
toco eu mesmo, o Dengue toca Dengue e o Kalil é o Kalil. Entende o que digo? Não
ficamos, tipo: "Oh, vamos tentar fazer uma linha de baixo como a de fulano, ou
vamos tentar uma vibe de guitarra como a de ciclano". Não! Simplesmente
estávamos no estúdio conversando com os nossos instrumentos, tendo um diálogo. É
assim que acho que esse disco soa, e esse foi o objetivo.
O projeto
soa mais como fusion jazz do que algo inspirado no que se fazia no Nordeste do
início dos anos 1970. Em que momentos dá para percebermos o toque brasileiro na
música do Praia Futuro?
Não sei se dá para identificar,
exatamente, locais ou países. Acho a guitarra do Catatau com uma vibe bem Fortaleza,
assim com a batera do Kalil, por exemplo. Porém, como eu disse antes, nós apenas
colocamos quem somos sem tentar nos encaixarmos em uma categoria ou imitar
certo estilo. De certa forma, não pensamos; simplesmente tocamos.
Qual
é a história por trás do título Praia
Futuro?
Há algo de curioso em relação ao título.
Quando cheguei em Fortaleza, do aeroporto, fui direto ao estúdio. Nunca havia
ido à cidade. Não conhecida nada de nada por lá. Durante as gravações, senti um
clima meio futurístico na sonoridade que trabalhávamos. Como se estivéssemos nos
dedicando a timbres e vibes que fossem futurísticas, em vez de vintage. O Kalil
sugeriu: "Que tal chamarmos a banda de Praia Futuro?", e eu disse: "Sim, é um
nome legal, até porque, para mim, estamos explorando algo atual e futurista". Depois
descobri que havia uma praia com esse nome [Praia
do Futuro], e tudo fez sentido.
Há
planos para o projeto agendar alguns shows?
Nós iremos tocar agora, no final de
abril, em Fortaleza, no festival Maloca Dragão. Depois, esperamos começar a
fazer alguns shows entre julho e agosto. Vamos torcer pelo melhor!
Veja o teaser divulgado.
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